terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Vibrações negativas

(Por Adelvan Barbosa *)

Resolvi abrir o Glorioso ano da graça de 2012 fazendo mal uso da internet. Explico: Há alguns dias um estudante sergipano resolveu repassar via Facebook uma materia do ano passado do Correio Braziliense que fala sobre irregularidades na captação de dinheiro público para a maior prévia carnavalesca do estado, o famigerado "PreCaju". O bagulho repercutiu muito, o que levou o mentor da tal festa, um daqueles eternos parasitas do poder publico, a processar o rapaz por um suposto "mal uso da internet". Uma emissora de TV local, afiliada à Rede Record, chegou inclusive a fazer uma materia em seu telejornal exclusivamente com este enfoque: "mal uso da internet", com o referido pilantra que se acredita dono de uma das principais avenidas da cidade durante 4 ou 5 dias do ano posando de vítima. Tudo isto com a conivência - diria mais, com a adesão irrestrita e entusiasmada - dos alcaídes locais, prefeito e governador do estado (um se diz comunista, o outro socialista), que adoram posar com seus abadás em plena folia. Inacreditável, não ? Coisas de Sergipe Del Rey. LEIA AQUI a materia original e confira a cara de pau dos elementos, especialmente quando falam que o Precaju, que é uma festa gigantesca que poderia muito bem se bancar sem o uso dos preciosos recursos publicos tão em falta na educação, saude e segurança publica, NÃO DÁ LUCRO !!!! Seria cômico, se não fosse trágico.
Abaixo, uma excelente matéria do jornalista Rian Santos sobre o assunto:

Cala a boca já morreu!

A Associação Sergipana de Blocos e Trios (ASBT) está na mira dos artistas sergipanos. O destempero do empresário Fabiano Oliveira – que deu um tiro no pé e interpelou um estudante judicialmente, constrangendo o rapaz a comparecer diante de um magistrado para explicar porque teve a ousadia de compartilhar matéria publicada pelo Correio Braziliense numa rede social – saiu pela culatra e finalmente tirou a classe da letargia.
O coletivo de músicos Serigy All-Stars está recolhendo as assinaturas dos alforriados para devolver a chicotada do sinhozinho. Eles pretendem apresentar denúncia no Ministério Público Federal questionando a ASBT a respeito da utilização de recursos públicos repassados para a Associação. A suspeita de irregularidades foi levantada por relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), mas a insatisfação com a prévia carnavalesca realizada todos os anos com a bênção da Prefeitura de Aracaju e Governo do Estado de Sergipe vem crescendo há muito tempo, independente de eventuais conflitos com a letra da lei.

Cala a boca já morreu! – A matéria mencionada, causa e catalizador da indignação dos músicos sergipanos, foi publicada em 16 de dezembro de 2010, sem que qualquer ação judicial tenha sido imposta ao diário. Nela, o jornalista Lucio Vaz explica como a ASBT, uma associação sem fins lucrativos, consegue financiar uma festa privada com um montante milionário, retirado dos cofres do Ministério do Turismo por meio de emendas parlamentares.

De acordo com o Correio Braziliense, Albano Franco (PSDB), Jackson Barreto (PMDB), Jerônimo Reis (DEM), José Carlos Machado (DEM) e Valadares Filho (PSB), além do baiano Emiliano José (PT), então deputados federais, julgaram proveitoso destinar quase R$ 16 milhões para que a ASBT promovesse três edições de uma prévia carnavalesca que afronta claramente uma série de direitos dos cidadãos sergipanos, impedidos de trafegar livremente pelas principais vias da cidade nos dias em que a festa é realizada.

No entanto, a boa vontade dos entes públicos com as empresas que formam o grupo não para por aí. O Pré-Caju foi incluído no calendário turístico e cultural da capital por lei municipal em 1993. Três anos depois, outra lei reconheceu a ASBT como entidade gestora e organizadora do evento. Depois, ela foi agraciada com o certificado de utilidade pública estadual. Hoje, a micareta é reconhecida pelas autoridades como um evento estratégico, uma das principais cartadas para promover o turismo local. Nossos gestores não explicam, contudo, porque depois do investimento vultoso, realizado durante anos a fio, nem mesmo o principal provedor da festa reconhece a capital sergipana como destino apropriado para os visitantes.

Há menos de uma semana, o Ministério do Turismo indicou os 184 destinos para turistas durante a Copa do Mundo de 2014. No Nordeste, só foram contempladas cidades do Maranhão, Rio Grande do Norte, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Bahia e Ceará. O objetivo é aumentar o fluxo turístico e a geração de renda e emprego. Entre os nove estados nordestinos, Sergipe foi o único que ficou de fora.

Para o cantor e compositor Deilson Pessoa, que também integra a direção do Fórum de Música de Sergipe, a iniciativa do Serigy All-Stars já pode ser considerada bem sucedida. Para o coletivo de músicos, importa o exercício da cidadania, o devido respeito à coisa pública, a saúde de nossa democracia. “O espírito do Cacique Serigy com certeza agradece a todos que subscreveram a denúncia que vamos apresentar ao MPF contra a ASBT e a má utilização de dinheiro público na realização dessa festa privada. O que nós, artistas sergipanos, estamos reivindicando é um olhar mais atencioso com a nossa gente e cultura. Só você muda a maneira como é visto”.

É como se os músicos respondessem à tentativa de cerceamento da informação, manifesta na ação movida pelo empresário Fabiano Oliveira, respondendo em alto e bom som: Quem manda em mim sou eu!

riansantos@jornaldodiase.com.br

*Adelvan Barbosa escreve o fanzine virtual / blog "Escarro Napalm", produz e apresenta o Programa de Rock na Aperipê FM. Texto publicado anteriormente no blog Escarro Napalm

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Ensaio para um vídeo-ensaio

por Alessandro Santana *

O vídeo Sem Utopia é um vídeo-ensaio sobre a aplicação da voz off sobre a imagem. Este é apenas um estudo para uma produção posterior dividido em dois estudos (sendo este o primeiro deles).

O referido vídeo citado no anteriormente apresenta uma estrutura que divide-se em quatro partes: a primeira delas tem a dialética narrativa aproximada do cinema 'clássico', tendo os elementos de localização espaço-temporal e apresentação do personagem no seu despertar cotidiano. Na sequência em que o personagem se barbeia, uma referência sutil ao cinema de invenção - a navalha e a narração radiofônica sensacionalista - esta última, por sua vez traz ao espectador notícias do cotidiano da cidade, que, no começo do dia, torna-se a mola motriz das náuseas do personagem anônimo - outra referência ao cinema de invenção e ao personagem de Paulo Cesar Pereio em Bang-Bang de Andrea Tonacci.

Num segundo momento do vídeo vemos o personagem de Alexandre Gandhi e a subjetiva do mesmo em planos-sequência recortados e a voz em off que apresenta o nihilismo do personagem em seu passeio pela cidade.
De repente, Fuga: vamos ao extremo sul da cidade, na mente do personagem que delira enquanto inala o azedo vômito.

Do delírio à realidade, aos cristãos panfletários, à náusea do real: Cut Ups e nihilismo (mais nihilismo). Viver, respirar, caminhar, vomitar. A tarde.

Quarta parte: Anônimo desaparece, a linguagem narrativa desaparece (completamente), o som ambiente desaparece... é tudo cidade-cemitério-chão, música e mal-estar. Anônimo reaparece aos pedaços. Subjetivas, bad vibe e conclusões inconclusas. O contraponto necessário, a oposição necessária, a força necessária. A vida sem utopia. Um vídeo letal como a vida; a imagem e o som como elemento de transmissão de mal estar.  

 
* Alessandro Santana (videomaker e especialista em artes visuais).