quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Sem Utopia

Um dia comum, um brasileiro quase comum. Aqui, o horror existe por si só. Um dia na vida de um homem que prefere encarar a realidade a viver a utopia das massas. Um cotidiano passado. Azedo.

Um vídeo de Alessandro Santana
Baseado em texto de Mendes Costa
com Alexandre Gandhi

equipe raw power guerrilha. [parece uma banda de rock]

domingo, 13 de novembro de 2011

Alada Palavra



Um vídeo apresentado a partir da memória de pessoas próximas de Antônio Gonçalves da Silva, o poeta popular cearense conhecido por Patativa do Assaré. O trabalho apresenta uma proposta de aproximação com a linguagem sertaneja, com a qual a matéria poética se manifesta naturalmente por intermédio da palavra, a sua realidade, transpondo-a para uma dimensão universal. A memória viva em um documento em vídeo que reúne causos e fatos da vida deste poeta sertanejo que por meio da sua performance, cantou a vida do seu povo.

Produção:
Alessandro Santana
Hernany Donato
Stênio Diniz
Imagens e som direto por Alessandro Santana
Pesquisa e entrevistas por Hernany Donato

COM:
Inês Cidrão
Jesus Leite
José Lourenço
Juliane Alencar
Raimundo Gonçalves
Stênio Diniz
Chagas Gonçalves

Alada Palavra: 28 minutos, cor, Stereo, NTSC, 4:3

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tarkovski + Artemiev = Arte

Andrei Tarkovski
Esta semana reassisti Solaris, do diretor russo Andrei Tarkovski. Baseado em romance homônimo de Stanislaw Lem, o filme narra a história de um psicólogo encarregado de realizar uma investigação sobre os mistérios que interferem em uma missão em torno do planeta Solaris. Um filme sobre memória e existencialismo. Tarkovski é, de fato, um formidável criador de imagens, mas não é sobre isto que vamos falar nesta postagem, e sim sobre a trilha sonora nos filmes de Andrei, os três cujas trilhas foram compostas por Edward Artemiev (os respectivos links para download das trilhas estão no fim da postagem).
Eduard Artemiev

    Eduard Nikolaevich Artemyev estudou no Conservatório de Moscou. Seu interesse por música eletrônica e sintetizadores começou após sua graduação em 1960, quando a música eletrônica ainda estava em seus primeiros dias. Ele escreveu sua primeira composição em 1967 em um dos primeiros sintetizadores, o sintetizador ANS desenvolvido pelo engenheiro soviético Evgeny Murzin, sendo assim um dos pioneiros da música eletrônica. Sua colaboração com o cineasta Andrei Tarkovsky na década de 1970 o tornou mais conhecido. Ele escreveu a trilhas sonoras dos filmes Solaris, O espelho e Stalker. Segundo o próprio Artemiev em entrevista no documentário 'dossiê Tarkovski', o diretor em questão não queria música, mas uma combinação de sons que sugerissem a atmosfera necessária ao filme. Em Solaris, percebemos isso perfeitamente. Existe um som de fundo que não é uma música tonal e melodiosa, mas sons, peças para orquestra e eletronics, ou música eletroacústica que dão a ambientação da imagem, e que certamente alguns espectadores podem ouvir sem notar a presença da música, além, é claro do tema 'bachiano', que representa a terra (presente em apenas duas sequências do filme: no início e no fim). Ainda sobre esta 'bachiana', Artemiev pega um Cantus Firmus e cria uma melodia sobre a base 'emprestada' de Bach (que era o compositor favorito de Tarkovski). Nesses três filmes em que o músico e o diretor trabalham juntos, a trilha sonora funciona sempre nesse esquema onde os sons são a base da música, que quando mixados, dão força à imagens.

    Interessante notar também uma (ou duas) coisa (s) relacionada (s) à questão da imagem (e da música) em Tarkovski:  no volume II do Dossiê Tarkovski (uma série de 4 dvd´s sobre o próprio com entrevistas, documentários e cenas excluidas de alguns filmes), Artemiev aponta que certa vez Tarkovski o disse que utiliza a música como complemento quando ele falha na comunicação através da imagem. A segunda observação seria a relação de Tarkovski com a arte, e principalmente com a pintura, e o seu pensamento de que, sendo o cinema uma arte relativamente jovem, ele propõe então trazer toda a bagagem das artes - a literatura, a pintura e a música principalmente - para o cinema tornando-o algo tão forte quanto as artes seculares previamente citadas.
    Sem dúvida, por essa seriedade em tratar de questões estéticas, de pensar o filme e de relacionar o cinema com as artes clássicas, Tarkovski encanta com as imagens que cria e com as estórias que conta. Não pela estória em si, mas pela forma como ela é contada. Contrariando o primeiro parágrafo, acabei falando das imagens, afinal, é absolutamente indissociavel Tarkovski / Imagem. 
 
SEQUÊNCIA FINAL DE SOLARIS

a baixo os links para download das trilhas sonoras

SOLARIS
O ESPELHO + STALKER

Penélope, cais e espera


Penélope, cais e espera from Alessandro Santana on Vimeo.

Penélope, filha de Ícaro (irmão de Tíndaro, rei de Esparta) e Peribéia (a ninfa), então casada com Ulisses,que a confiara a guarda do reino de Ítaca, para o filho do casal, Telêmaco, em caso do não retorno da guerra.
O vídeo Penélope, cais e espera toma esse mito como argumento para o seu roteiro.
Errante, Penélope vaga seguindo para o mar, na esperança cega de ver o retorno de Ulisses a qualquer custo, e com sua caminhada, desmancha o final feliz proposto no mito. Nesse tempo em que espera, ela relembra sua angústia em casa e a sua caminhada errante e solitária.
Este vídeo é uma resposta a um estímulo não presente na narrativa, representado em segmentos autônomos e minimalistas, que dentro de seu espaço estrutural não necessariamente articulam uma continuidade fílmica.

FICHA TÉCNICA:

Direção:
Alessandro Santana
Com:
Jamyle Argolo e Bruno Monteiro
Produção:
Alessandro Santana e Isabela Mattiazzo
Fotografia:
Isabela Mattiazzo
Câmera:
Alessandro Santana e Isabela Mattiazzo
Boy De Set e Créditos:
Ricardo Dos Santos
Uma Produção:
Faz O Que Pode Produtora
Produtora Associada:
O Mínimo De Dignidade Filmes
Apoio:
Zero Grau Produções

Aracaju, novembro, 2009.




 Fotos de Making Of


Desconforto ou qualquer título que lhe caia melhor


Desconforto ou qualquer título que lhe caia melhor por alessandro_santana

Este vídeo é parte de um projeto apresentado à Universidade Federal de Sergipe como um pré-requisito para a graduação de licenciatura em artes visuais. trata-se de um programa gravado em vídeo, baseado nas estéticas dadaísta (no que se refere ao caótico) e surrealista, que aponta para a questão do onírico num quebra cabeça que inclui peças do real e do imaginário de uma mente atormentada, e resulta num mosaico de imagens e sons derivados do inconsciente diante do stress do cotidiano da vida pós moderna. Será sonho ou realidade? as verdades se misturam nesse jogo onde o único sentimento existente é o desconforto.
Câmera, roteiro e direção: Alessandro Santana

clique aqui para baixar a trilha sonora originalmente composta pelo projeto Música das Cinzas para este curta metragem
 Estudo de trilha sonora nº1 (uma suite eletroacustica em 8 episódios) [trilha sonora do curta metragem Desconforto...]

domingo, 2 de outubro de 2011

Rock in Rio 2011

COM A PALAVRA: GIL BROTHER (o Away de Petrópolis)

A Faz o que pode concorda com o ponto de vista gilbrotheriano sobre este festivalzinho de música.

Ser Tão Road Trip


Um dos documentários extra do DVD Alada Palavra, que pode ser considerado  vídeo de observação ou documento de viagem, onde o espectador poderá dar um passeio pelas estradas de Sergipe, Bahia, Pernambuco e Ceará, numa viagem do litoral ao sertão recheada de enquadramentos inusitados.          

A eterna maldição do cacique Serigy

um vídeo de Alessandro Santana, Bruno Monteiro e Mauro Luciano, 2009. 
 
Um homem em pleno contato com a natureza se vê ameaçado por uma estranha embarcação. Depois que ela aportou, nada mais foi paz no seu jardim das delícias. Um filme eletrizante que traz à tona a estória de um mito. O mito de uma tribo qualquer brasileira que se prostra diante do canto embriagante e conveniente de invasores. Muito embora imerso nesse contexto de inanição de desejos mais concretos, aflora nas brenhas deste solo as forças da natureza personificadas na figura densa do cacique Serigy, esbravejador de uma tradição contrária às tradições, esta ao mesmo tempo que se esmaga, camufla-se nas estruturas desgastadas de povos quaisquer às nossas vistas, no lugar sem dono, desértico em atitudes, só ele, o cacique para nos dar essa idéia. 

FICHA TÉCNICA:

Elenco: Andrezza Poconé, Estranho, Fred Leão e Hernany Donato.
Roteiro e Direção: Alessandro Santana, Bruno Monteiro e Mauro Luciano
Produção: Bruno Monteiro e Alessandro Santana
fotografia: Bruno Monteiro
still: Anderson Bruno
Edição: Alessandro Santana

faz o que pode produtora ©2009
 
Abaixo, algum material promocional como trailer, fotografias de still e uma entrevista com os diretores, etc, etc. 
 Trailer:
 Stills:



Da série: recordar é lembrar: Matéria publicada no site Overmundo
 
Lenda indígena vira alegoria em curta-metragem (Por Luciana Almeida)

Os realizadores Alessandro Santana, Bruno Monteiro e Mauro Luciano escreveram, produziram e filmaram a “A eterna maldição do Cacique Serigy” ao lema do diretor Rogério Sganzerla: "quando a gente não pode nada, a gente se avacalha e se esculhamba”. O curta com duração de 14'59'', quatro meses de produção e orçamento de pouco mais de R$ 30,00 promete ser tímido só em números. Parece até mentira, mas cinema de invenção também é feito em Sergipe. Confira, abaixo, a entrevista com Alessandro Santana e Mauro Luciano onde falam sobre sobre cinema, política e ação cultural (não necessariamente nessa mesma ordem).

Luciana Almeida - Como foi fazer o curta-metragem?

Mauro Luciano - Na minha opinião foi um fardo em se tratando de uma produção executiva, mas por outro lado uma experiência revigoradora por conta da união da equipe. Não é a história de cair na mesmice de reclamar de falta de dinheiro pra se fazer filmes, ou de falta de atenção por parte de instituições públicas que se dizem prestar serviço ao audiovisual. A questão é em se fazer um filme de qualidade sem recurso técnico algum. Muita gente tem feito isso - inclusive em Aracaju, um lugar muito atrasado no campo do audiovisual. Dá pra ver no youtube, algumas das experiências neste curso. Mas a forma do filme evidencia uma ingenuidade que, de certa maneira, é reflexo dessa incipiente produção provinciana e "quase" miserável. Então a idéia inicial foi essa: fazer um manifesto em forma de audiovisual contra a parquice da arte audiovisual do local (ainda que o filme possa ser visto como nacional também, já que a situação da miséria cultural no Brasil ainda é generalizada).

Alessandro Santana - Fazer esse curta foi um tipo diferente de experiência pra mim, pois nunca tinha trabalhado como diretor de ficção, nunca tinha trabalhado com não atores (nem atores)... Sempre acreditei e tive simpatia pela lenda da maldição. Me uni com mais alguns amigos que também são simpáticos à idéia do indígena em questão e, em 4 meses escrevemos o roteiro, gravamos e finalizamos o curta. Participei de todos os processos (roteiro, produção, e pós produção) e digo: é estressante. Crianças, não tentem fazer isso em casa.

Luciana Almeida
- Qual a importância do curta-metragem? Enquanto percebemos uma produção cinematográfica cada vez menos politizada, o "Cacique" segue no sentido contrário?

Alessandro Santana - O curta não tem importância nenhuma. É só mais uma produção audiovisual. Se ele se tornará importante, só a história dirá e mesmo assim eu sei que não vou ganhar nada com isso (além da inimizade de pessoas que por ventura se sintam atingidas pelo humor ácido do filme). Sim, ele é um filme eminentemente político que trata da formação do passado e da contemporaneidade da nossa terra de uma forma crítica e alegórica. É um filme político pela sua natureza. Se eu fosse marxista diria que era “um filme sobre luta de classes”, mas também não é deste tipo de política que estamos tratando. É algo bem maior que isso, que perdura nos séculos e essa História está mais pra terror que pra amor.

Mauro Luciano - Não acho que o filme siga contra a maré. O filme é humano, principalmente, ou até, no seu sarcasmo. Contra a maré é fazer filme pra ganhar dinheiro às custas de verba pública. Assim deveria ser visto por todos - e assim é ético. Um ponto dele que me incomodou é o ressentimento ao falar desse assunto, como se eu, Cabelo e Bruno tivéssemos raiva da produção artística de Sergipe. Bem, dá pra ver de outra maneira - é uma tentativa de crítica ao status quo de uma estética do irracional, e de um primitivismo sem raiz alguma em conceitos. Um espontaneísmo idiota que toma conta de gente que se chama de artista e intelectual (se é que essas máscaras ainda existem, na sociedade de consumo desenfreado e ávida por surrealismos pops midiáticos). Acho que nesse ponto que o filme é político também - ao impôr uma reflexão a quem assiste. Além, claro, da revigoração de uma lenda que dá um contorno ao imaginário radical de Sergipe. Até Antônio Cândido já falou desse radicalismo em personagens públicos de Sergipe. E não é por acaso, também, que partidos de esquerda ditem novas formas de gestão pública no Estado. No entanto, o radicalismo virou só fachada, perdeu o vigor (como, por exemplo, um partido comunista estar na frente com propostas evidentemente liberais, denotando uma farra de ornintorrincos, tal como Chico de Alencar deu o nome a esse novo político que bota ovos e mama, ao mesmo tempo). É uma lástima que, se vista com ressentimento, fica inaudível. Por isso é melhor ver o filme sobre uma maldição do Serigy como violento e bobo, igual a uns filmes B que vão surgindo aos montes - mas com a diferença da mensagem (militante, até) significativa que ele traz nas entrelinhas.

Luciana Almeida
- Quais são as influências/referências no “Cacique”? Glauber Rocha? A idéia da produtora "Faz o que pode" lembra Sganzerla & Bressane também...

Alessandro Santana - Definitivamente temos influência de tudo aquilo com o que convivemos. Cinematograficamente falando, você está correta: temos referências no cinema novo e no cinema marginal como um modo brasileiro de ver e contar a estória, assumindo a precariedade e fazer o que é NECESSÁRIO fazer, além do que, nós três que dirigimos esta obra gostamos da estética do Glauber e do anti-cinema da BelAir, mas, por incrível que pareça, uma das minhas maiores influências foi a música sergipana. Esse barato de exaltar o ‘quase-nada’ me deixa perplexo.

Mauro Luciano - Glauber foi uma moldagem necessária, porque ele tentou inventar um cinema feito no Brasil, e com especificidades do Brasil. Ou seja, o subdesenvolvimento cultural posto em primeiro plano da forma artística, como maneira de se integrar a uma vanguarda. Mas aí vem a história de Ferreira Gullar, no livro Vanguarda e Subdesenvolvimento. O buraco fica mais embaixo, nesse debate sobre uma fórmula pobre mostrada às elites socialistas mundiais. Sem contar que Glauber Rocha foi o único, até agora, que comunicou de maneira profunda na sua alegoria, os problemas dessa ex-colônia portuguesa (ou européia). Eu acho que, até no inconsciente indígena, o Serigy tem uma força nordestina que é própria de um tipo de arte popular, que insistem em chamar de vanguardista. A rememoração de Bressane ou Sganzerla, da BelAir e dos filmes super 8, como figuras autorais desse subdesenvolvimento posto à tona, é também uma homenagem a dois artistas ainda incompreendidos por 99,9% dos espectadores de cinema e TV. Mais especificamente Sganzerla, desde o Bandido, fez esse link com a arte e o popular. Então - como fazer uma experimentação ter ares de cultura popular? Essas são as influências - de artistas que brincavam e brigavam por imagens relevantes.

Luciana Almeida – Uma característica do curta-metragem é a questão da precariedade. Essa característica já é um fato superado na história da arte. Não é o orçamento de um projeto artístico que mede seu valor. Quais foram as condições de produção e como isso interferiu no aspecto estético-narrativo? Podemos falar sobre uma estética do precário? Segundo Helio Oiticica "da adversidade vivemos", isso se encaixa no processo de feitura do curta de vocês também?

Mauro Luciano
- Como te falei anteriormente, o curta não passou por um processo longo de produção, muito menos de discussão, elaboração. Nem mesmo teve iluminação, captação de som ambiente, preparação exaustiva de atores, roteiro - nada disso. Foi uma camerazinha amadora digital num tripé e uma idéia na cabeça, se é pra ser generoso com a vontade de se fazer do Cinema Novo. Isso entra como atributo estético? Acho que pode entrar, na medida em que todos que participaram do projeto estavam cientes de que não iriam ganhar dinheiro com aquilo, e nem mesmo sabiam no que ia dar em resultado - imagine-se entrando numa produção desse tipo... É algo que se chamaria no jargão de "fazer por amor à arte", se a arte não estivesse no caixão faz tempo. Então o filme foi feito "por amor ao escracho", já que é a única maneira de provocar algum rebuliço na burrice generalizada. E, convenhamos, se até o funk carioca tem sido visto com outros olhos pela crítica, por que não uma produção audiovisual tosca violenta como o filme do “Cacique” não seria?

Alessandro Santana - A precariedade é uma característica do Brasil e não acredito que num país subdesenvolvido como o nosso, a falta de recurso seja motivo para a não-produção. As nossas condições de produção foram mínimas para que se pudesse ter o resultado final necessário da obra. A gente fez o que pode dentro dos nossos limites, assumindo a precariedade da produção, fazendo claquete de fundo de gaveta e tocando adiante a produção, sem essa de esperar por iniciativas públicas para produzir. Se a imagem não tem alta definição, ou se isso ou aquilo está fora do padrão técnico esperado pela questão de precariedade de equipamentos, é isso aí mesmo o que podíamos fazer para não cair no ostracismo da não produção: Contente-se com o que está aí na tela. É o que tem e sem maquiagem. Acho que essa questão de precariedade cai mais pro lado estético do que pro narrativo, entretanto algumas questões da narrativa tiveram que ser adaptadas às nossas condições técnicas para que a sequência ou o plano pudesse dar a conotação ou resultado imagético esperado para o objetivo final. Enquanto vemos filmes lindos e vazios como uma publicidade de margarina que lhe vende um dia saudável em 30 segundos, temos filmes ‘feios’ que podem te despertar um questionamento. A partir daí, só depende do espectador. Existem os que pensam. Também existem os que só olham e falam, mas que nunca fizeram absolutamente nada além de olhar. A opinião desses não me vale de nada. Se “da adversidade vivemos” é porque “toda unanimidade é burra”. Não fiz o filme para ser adverso. Fiz por necessidade neste exato momento da minha vida, neste lugar que não explode nem se implode.

Luciana Almeida
- A “Maldição do Cacique” não deixa de ser uma alegoria sobre nossas limitações? Afinal, o personagem do cacique é um anti-herói?

Alessandro Santana - Sim, o filme é uma alegoria, mas não sobre nossas limitações. Já se deu conta que o mito da maldição do cacique é uma coisa que paira na esfera político-cultural? O personagem Serigy pode ser um anti-herói ou até um semi-herói, pois Herói mesmo é Cristóvão de Barros. Ganhou até nome de santo, nome de cidade, nome de praça... Quando Sergipe se tornou Sergipe, foi uma tentativa de se redimir perante o cacique, mas a maldição já tinha colado e nunca mais ele largou o aerostato.

Mauro Luciano - A maldição do Cacique é uma lenda. Nem tudo o que se escreve faz parte da história - existe, também, uma história oral, que é passada de geração a geração. Na idade média acontecia assim, porque ninguém sabia escrever, só a padraiada entocada nas igrejas. Hoje, a história oral é a história não oficial - a que não aceitam como a tradição porque ainda é contada por gente que não sabe ler nem escrever. Não acho que Sergipe tenha nascido, assim como a Bahia, como Fortaleza, ou mesmo a Paraíba (esse Estado sim, com uma evidente simbologia de luta, vista na bandeira) como se vê nos livros - uma terra linda com palmeiras e sabiás. Claro que o Nordeste é lindo pros europeus, mas no momento de criação dessa região a história foi de apropriação de terras, invasão, roubo, latrocínio, genocídio e estupros. Diferente do que aconteceu na parte Sul do país, que houve uma colonização na melhor acepção da palavra. Até hoje, no Nordeste, a violência é ainda latente, e ela desce até, mais ou menos, às periferias do Sudeste. É a velha história da modernização imposta de um modo conservador ( só pra elites), o que gera e gerou uma periferia marginalizada de pessoas do tipo do cacique - que é uma alegoria clara da periferia que vem desde a suposição de um revolucionário do bando de lampião como o corisco de Glauber, um latino-americano indisposto e tosco, e assim foi aceito em todas as mesas chiques que apareceu. Resumindo - não se trata de uma narrativa convencional - e por isso acho que o Serigy fica parecendo um herói, mas nem tanto -, mas sim de uma lenda oral de um povo marginalizado ( de uma história dos vencidos, como diria Walter Benjamin) transposta pras telas.

Luciana Almeida - No filme "O Bandido da Luz Vermelha" de Sganzerla há célebre frase: "quando a gente não pode nada a gente se avacalha e se esculhamba". A lucidez possível é o riso paródico dentro do “Cacique”?

Alessandro Santana - As graçinhas nas entrelinhas estão lá. A lucidez e o riso estão com o espectador.

Mauro Luciano - Lucidez rima com iluminismo. Acho que todo mundo da equipe era a-luno(a). Não que eu ache que precisasse de um professor pra toda a turma - pelo contrário. Como o filme foi feito sem iluminação, melhor não ter lucidez nenhuma.

Luciana Almeida - E a satirização ... ela surge pelo desencanto? Há um certo desencanto dessa geração? O Cacique Serigy é um símbolo desse sentimento?

Mauro Luciano - O desencanto é característica da modernidade. Vi em Lefebvre que só a ironia é que domina algum tipo de mensagem codificada com o encantamento antigo, e isso o velho feio Sócrates, e o inimigo bonito dele, Nietzsche, tambem diziam. Mas aí é que tá - Sócrates moderno? Nietzsche irônico? É o que diz Lefebvre. A geração desencantada, no caso, é uma geração violentada, usurpada, alienada e toscamente armada. E nisso há razão, há iluminação - mas de outro tipo. Talvez romantizada. Mas eu prefiro achar que é anti-utópica, ainda que revoltada. O Serigy apareceu na hora certa pra mostrar um grito que em vários lugares da américa latina roubada até hoje pelas grandes aristocracias burguesas do mundo deveria ser ouvido. Pra os grã-finos do Banco Mundial ou da ONU ouvissem não só a diplomacia de conversas a sete chaves em ONGs entocadas, mas a indignação de marginais que hoje estão se organizando no crime. Faltou uma bomba atômica na cidade, no fim do filme.

Alessandro Santana - A satirização, no meu caso, já é o que podemos chamar de estilo de vida. Admito: faço parte dos citados na bíblia como ‘a roda dos escarnecedores’. Não perco oportunidade de fazer uma galhofa, e como sergipano, nascido em Aracaju, me sinto com todo o direito de dizer (ao meu jeito) o que eu acho sobre o lugar onde nasci e vivo. Desencanto com este lugar, não tenho porque nunca me encantei com nada por aqui. O filme na verdade é o símbolo de um sentimento de quem se sente roubado por uma pessoa que nunca viu na vida com a conivência dos seus semelhantes, enquanto todos fazem vistas grossas ou reclamam, mas não fazem nada a respeito. Nem um curta-metragem. 

Despedida de Vaqueiro


Despedida de vaqueiro é um documentário-flagrante, onde vemos uma cena autêntica da cultura popular sertaneja, capturada pela câmera de Hernany Donato. Vídeo gravado no município de Monte santo, no sertão baiano, que ficou conhecido na história do Brasil, pela guerra de Canudos e na história do Cinema por ser cenário do filme 'Deus e o diabo na terra do sol' (1963) de Glauber Rocha, e na minissérie 'O pagador de promessas' (1988), esta, dirigida por Tizuka Yamasaki (que trabalhou com Glauber no final dos anos 70).
Monte santo também é cinema. hehe

sábado, 1 de outubro de 2011

Western saroio

(Por Andrei Albuquerque*)


A propaganda oficial  sergipana insiste, macicamente,  na propagação de um ideal  de desenvolvimento nunca antes esperado nestas terras. A alcunha ––– que deveria soar como pilhéria ––– de “ a capital da qualidade de vida” para Aracaju  tantas vezes foi repetida que se tornou uma verdade a ser gritada e macaqueada pelas ruas -–– inevitável a lembrança  da surrada máxima do nazista Goebbels, ministro de Hitler, a respeito da verdade forjada a partir  da repetição de uma mentira cem vezes.

Não parece que este slogan foi apenas uma necessidade política; também foi um refúgio para o orgulho opresso de seus habitantes que tendem a superestimar características locais ––– embora seja natural a altivez que infla o peito diante das maravilhas de sua terra. Porém, como em uma torcida raivosa (e descerebrada) de futebol, o bairrismo provinciano forma uma corrente cega, e igualmente raivosa, contra os que não compartilham de suas raízes e ancestrais. Lembro que ao acompanhar, pela televisão, uma greve de funcionários da afiliada aracajuana da principal rede de televisão do país, um sindicalista, em seu discurso bilioso e combativo, pregava que o diretor da sucursal aracajuana era um “forasteiro” vindo do Sul e devido a isso não deveria estar no comando; como em um prosaico vilarejo de filme de faroeste, faltou ao belicoso sindicalista exigir que o forasteiro deixasse a cidade antes do pôr do sol. O termo “ forasteiro” parece que também fora usado em uma disputa política contra um candidato ao governo que não era sergipano, ––– em suma, eram dois forasteiros, estrangeiros, em seu próprio país.

Livrados da tentação de mergulharmos em questões políticas e sindicais, podemos observar que a repetição desse termo, deste significante, “ forasteiro” –– que nos dicionários  também designa o que é estranho, estrangeiro, peregrino, –––  talvez revele algo de nosso espírito provinciano. Também é fácil encontrar propagandas e admoestações midiáticas em prol do consumo de produtos sergipanos, principalvemente por brotarem do calor de nossa terra e do suor de nosso povo aguerrido; isso desde laticínios e sucos de frutas até manifestações folclóricas e culturais. A questão está longe do disparate, da heresia, de negar o valor das manifestações folclóricas de um povo; o que é enervante (e muito chato) é a obrigação de uma reverência inquestionável  que deve sobrepujar as predileções individuais, cabendo aos artistas temerem a desconsideração, da reverência obrigatória ao folclore, em suas músicas, filmes etc.

Junto ao termo “ forasteiro” poderíamos verificar outros nada decrépitos como “ artista da terra” e “artista local” que reduzem o artista e sua produção aos estreitos horizontes do melancólico refúgio provinciano. A relevância estética do artista e sua obra fica, sensivelmente, atrelada à sua localidade; há um tácito acordo para que o artista local não seja criticado, principalmente se sua obra estiver eivada de referências folclóricas mesmo que forçadas.  Semelhante à torcida de futebol raivosa, grupinhos de intelectuais e universitários condenam ou desprezam os heréticos que não comungam, irrestritamente, dos valores da cultura popular.  Se a categoria “ artista da terra” forja uma identidade, também acarreta certo isolamento e sectarismo.

Certas disputas e perseguições  não levam a nada em uma provinciana capital onde a atividade intelectual e artística tem bafio de mero diletantismo, de hobby,  sendo considerada  passatempo excêntrico que tem por recompensa olhares debochados. Restam, enfim, a babaquice das querelas entre grupinhos e a lassidão das queixas por falta de reconhecimento.

Em Sergipe, há a indelével tendência a engrandecer as características locais: “país do forró”, maior árvore natalina etc. Não  pretendo contradizer os que concordam com essas características, mas é notório que seus habitantes se aferram a elas em busca de afirmação de alguma superioridade regional e nacional. O “ narcisismo das pequenas diferenças” que inflama torcidas, grupos religiosos, certas minorias etc também se faz presente em nosso adorável rincão através dessa defesa irrefletida dos valores locais.

 Guerrear,  unicamente, pela prevalência desses valores impende o intercâmbio de ideias e cultruras, tornando a mentalidade local mais estéril e ensimesmada.  Se o atraso histórico de Sergipe  é patente, e foi descrito pela pena de historiadores da cultura e da literatura, não devemos recalcá-lo, soterrá-lo, ––– em uma tentativa sôfrega para evitar que ele não enegreça o orgulho do suposto desenvolvimento atual ––– mas sim digeri-lo para que seja elaborado em novas produções da cultura. Quando um  sujeito neurótico se encontra sob forte recalque, concentra grande parte de sua energia psíquica na evitação de que conteúdos inconscientes angustiantes aflorem em seu pensamento consciente. Esses conteúdos retornarão de algum modo a contragosto do sujeito.

O western  provinciano segue, enfim, pálido sem ao menos ter um pouco do encanto do faroeste de um Sergio Leone.


* Andrei Albuquerque é psicanalista, membro do Instituto Freudiano de Psicanálise(ifp) e Coordenador Adjunto do Programa Despertar (alcóolismo e toxicomania) na Deso.

 Publicado originalmente em http://www.cinform.com.br/blog/Andreialbuquerque em 22/09/2011, com a devida permissão do autor.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Relatos sobre um cinema pós-industrial

(Por Mauro Luciano*)


Vejam só vocês que após a terceira grande revolução industrial, a das informações e das telecomunicações, o mundo antigo da industrialização veio abaixo. Hoje em dia qualquer indivíduo, seja ele rico ou pobre, pode ter uma câmera digital – e quem sabe até mesmo uma Full HD! O que quer dizer isso? Quer dizer que estamos em um contexto das imagens, simulacros, representações a nossa volta, todas estas captadas por um Kino Eye (olho cinematográfico) portátil. E o que tem sido gravado? Desde festas familiares a festas de faculdade – vídeos caseiros.

Há pouco tempo, não mais de 10 anos, sites de exibição, ou melhor, divulgação desses vídeos caseiros foram postos no ar. On air: na internet – na rede. Nossa network hoje é a sigla broadcast yourself do youtube. Imagens captadas por essas câmeras individuais, privadas, são publicadas com uma intenção óbvia de receber comentários de pessoas que as assistiram. A ideia de esfera pública se volta para o universo particular nerd de uma vida enclausurada de posts em blogs e redes sociais (nossas networks). Entendam – os conceitos vêm de fora, assim como as palavras.

Sendo assim, a melhor forma de deixar tudo isso muito vivo seria justamente uns pretensos artistas do vídeo, ou das artes plásticas, entrarem nesse bojo da antiga arte total e tentar revirar o cinema que morria asfixiado pela TV. As pequenas câmeras que optavam pela inutilidade cotidiana de casamentos e aniversários, agora filmam “ficção”.

Certo, antes dessa ficção vem a experimentação de uma linguagem com tonalidades documentárias. Em outras palavras – a camerazinha portátil, handycam, mesmo sem querer, capturava, e captura, uma série de “verdades” de nossa vida amadora. Não é por acaso que temos grandes blockbusters hoje sendo produzidos com essas pequenas câmeras – a textura da imagem delas denota realismo. Temos então um tipo de estética própria de nosso tempo, e que muitos festivais insistem em chamar de “tosca”.

Tudo bem, não é só nossa – vem da Nouvelle Vague, filmando em 16mm com cortes falsos, do Cinema Novo e a máxima “câmera na mão e uma ideia na cabeça”, dos filmes do movimento DOGMA alemão, do underground americano... Hoje essa democratização da arte se chama cinema de garagem, cinema de bordas, pós-industrial, e não só “filme de arte”, “cult”, “experimental”... ou tosco. O movimento não tem força hoje, mas tem personalidade e engajamento.

De tanto brigar com o pensamento industrial do cinema, ou do audiovisual – aquele pensamento que quer dividir o trabalho, encarecer as produções, deixar os produtores reféns de festivais e de incentivos do governo, Paulo Cesar Migliorini, inventor e professor no Rio de Janeiro, chegou a manifestar na revista virtual Cinética que esse cinema pós-industrial seria um eco contrário à sociedade industrial (esse que criou partidos de esquerda, a classe proletária, a divisão estreita de funções, a instrumentalização do pensamento, a alienação total do corpo humano ao trabalho, toda uma configuração que hoje não parece mais fazer tanto sentido). O cinema pós-industrial, segundo ele, estará sempre fora do mercado – algo questionável, visto que nunca a arte esteve fora dessa lógica. Mas o que fica do texto é uma luta contra um tipo de cinema, ou audiovisual, preso a ditames industriais.

Transcendências e expansões contra retrações e leis de incentivo – há uma briga hoje para imaginar o mundo. Em Aracaju, há uma imaginação atrelada ao regionalismo nordestino e provinciano (o pior lado de nossa região, pois é conservador e retrógrado), completamente vendido aos mecanismos de produção industrial. Nada que uma bela proposição de debates e diálogos não consiga tentar diluir com o tempo. Hoje, certamente, o mundo é tão democrático que até foge ao conceito de democracia, deixando todos perdidos – e os que se encontram estão ali presos às instituições e à sobrevivência no mercado hostil.
Charles Chaplin, em tempos modernos, nos mostrou o que a indústria criou dentro das relações sociais. Hoje, o realismo se foi, e vemos tudo como Guy Debord aplicou em teoria – algo só é porque aparece. Acho que aí está o ponto do cinema pós-industrial. Mostrar o que “não é”, porque “não aparece” nas TVs e festivais.


Mauro Luciano de Araújo é mestre em cinema pela UFSCar, professor universitário em Salvador e realizador de vídeos em Sergipe.  email: mauro_luciano@hotmail.com
Este artigo foi originalmente publicado no jornal Cinform, edição nº 1468, junho, 2011.  

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

DVD´S JÁ DISPONÍVEIS PARA VENDA

A Faz o que Pode é uma produtora de vídeo independente que surgiu para a veiculação dos trabalhos do videomaker Alessandro Santana, em 2008, junto com seu primeiro vídeo 'Desconforto ou qualquer título que lhe caia melhor'.                  
Levantando a bandeira do lema do it yourself, a Faz o que Pode tem produzido videoarte, filme de ficção, documentário e diversos videoclipes para bandas como Karne Krua, Mamutes, Plástico Lunar, Daysleepers (atual Nantes), somando-se ao cenário artístico de Sergipe com uma produção autoral e 100% independente, defendendo uma proposta cinematográfica de autor nos 4 DVD´s apresentados nesta propaganda, que contabilizam mais de 180 minutos de produção em vídeo autenticamente sergipana. 

VÍDEOS 2008-2009 - Alessandro Santana

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CONTEÚDO DO DVD:

Penélope, cais e espera (2009)
Cidade (2009)
Extreme Flickering Experience (2009)
Sem titulo 1 (2008)
Prelúdio (2008)
LUX (2008)
The disillusion of art (2009)
Desconforto ou qualquer título que lhe caia melhor (2007/8)
A eterna reciclagem do si (2007/8)
The breakdown of human absurdity (2007/9)
A liberdade sob a égide da lei (1º corte, 2009)
 Sua casa é o seu paletó (2008)

Tempo total: Aproximadamente 67 minutos.  
              

  Este DVD preza por firmar um registro da obra do artista em questão formando uma unidade de pesquisa na linguagem da comunicação em vídeo, que enfoca vários temas, proporcionando ao espectador uma reflexão crítica (com relação às temáticas) e artística a partir do trabalho do referido artista.*
                Partindo do ponto que Sergipe não é agraciada com este tipo de produção, tendo como maior contingente produtivo os vídeos de ficção, vídeos publicitários e documentários, sendo escassa a produção de Arte visual com suporte em vídeo, propôs-se juntar em um único DVD a produção de um ano do artista, cujo resultado são os 11 vídeos aqui apresentados, pretendendo registrar um ciclo de um ano da produção.
* Alessandro Santana é especialista em Artes Visuais.

 A eterna maldição do Cacique Serigy  (2009)

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CONTEÚDO DO DVD: 

A eterna maldição do cacique Serigy
Fazendo a eterna maldição - making of
Trailer
LUX (curta metragem de Alessandro Santana)
Baldes (curta metragem de Mauro Luciano)

Tempo total: Aproximadamente 40 minutos.

Com 100% de referências no cinema brasileiro de autor, esta alegoria reflete acerca de um ponto delicado que ecoa como lenda através dos tempos na história de Sergipe.
Sinopse: Um homem em pleno contato com a natureza se vê ameaçado por uma estranha embarcação. Depois que ela aportou, nada mais foi paz no seu jardim das delícias. Um filme eletrizante que traz à tona a estória de um mito. O mito de uma tribo qualquer brasileira que se prostra diante do canto embriagante e conveniente de invasores. Muito embora imerso nesse contexto de inanição de desejos mais concretos, aflora nas brenhas deste solo as forças da natureza personificadas na figura densa do cacique Serigy, esbravejador de uma tradição contrária às tradições, esta ao mesmo tempo que se esmaga, camufla-se nas estruturas desgastadas de povos quaisquer às nossas vistas, no lugar sem dono, desértico em atitudes, só ele, o cacique para nos dar essa idéia.

      Alada Palavra  (2011)

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CONTEÚDO DO DVD:
Alada palavra + 2 curtas extra:
Ser tão road trip
Reis no Juazeiro

Tempo total: Aproximadamente 43 minutos.

 Gravado no sertão cearence em 2010, nas cidades de Juazeiro do Norte, Assaré e no povoado Serra de Santana - onde nasceu o poeta Patativa do Assaré - este DVD ainda conta com 2 documentários extra, que podem ser considerados  vídeos de observação ou documentos de viagem, onde o espectador poderá assistir às manifestações folclóricas da folia de reis em Juazeiro ou dar um passeio pelas estradas de Sergipe, Bahia, Pernambuco e Ceará, numa viagem do litoral ao sertão recheada de enquadramentos inusitados.          
Alada Palavra é um documentário de Alessandro Santana e Hernany Donato, que apresentado a partir da memória de pessoas próximas de Antônio Gonçalves da Silva, o poeta popular cearense conhecido por Patativa do Assaré. 

Sem Utopia (2011)

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CONTEÚDO DO DVD:
Sem utopia+ 1 filme extra:
A eterna maldição do cacique Serigy (versão estendida)

Tempo total: Aproximadamente 39 minutos.
                
 Sem Utopia é um filme-experimento de linguagem da utilização da voz off enquanto complemento da imagem dentro da narrativa. A partir do texto surgiu a idéia do vídeo. O homem sem utopia abandonou todas as esperanças e vê o mundo de outra forma. É o primeiro filme tipicamente urbano deste diretor, onde a câmera mostra o cotidiano da cidade enquanto 'persegue' o personagem que sereno e calmo, cheira seu saco de vômito aliviando as tensões do cotidiano contemporâneo.
                A versão d´A eterna maldição do cacique Serigy presente neste DVD é uma remontagem do fime original, que não compromete a compreensão da narrativa, entretanto, acrescenta outra trilha sonora, além de planos e sequências não existentes na montagem anterior, num maior aproveitamento do material gravado.

 Plástico Lunar - Na estrada do Tempo (2013)


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 Conteúdo do DVD
Na estrada do Tempo (56min)
Vestígios da década passada (11min)
Videoclipes
Teasers


Tempo total: aproximadamente 115min

O DVD tem como material principal o documentário Na estrada do tempo, um vídeo que acompanha três anos da banda em momentos gravados entre 2011 e 2013, suas tocadas no eixo sul-sudeste e o retorno à sua cidade natal, Aracaju, assim como o início do processo de gravação do seu segundo álbum, apresentado num formato que se posiciona entre o documentário e o vídeo musical, em 56 minutos de duração. Os extras contemplam os videoclipes dirigidos por Alessandro Santana, assim como o documentário de curta metragem "Vestígios da década passada" (11 min.), que faz um apanhado do material gravado em equipamento analógico captado entre 2005 e 2008, a exemplo da 'Plastic Rock Explosion Tour', no eixo Rio-São Paulo (2005).


Cada DVD custa 20 Reais (frete não incluso para outras cidades além de Aracaju).
Para solicitar sua(s) cópia(s), envie um e-mail para alessssantana@hotmail.com





sexta-feira, 23 de setembro de 2011

EU NÃO BOTO FÉ NO CINEMA BRASILEIRO (ou: o manifesto de um homem só)

(Por Alessandro Santana*)


Deixar de pensar o cinema (no cinema), é uma práxis comum a partir do final dos anos 70. Dissolvem-se os ‘movimentos’ cinematográficos (cinema novo, nouvelle vague, Fluxus, underground americano...), salvo os raros casos de cinema de autor, que, de lá pra cá, por atuarem fora do esquema, acabam marginalizados (vide Zé Mojica Marins, Andrea Tonacci e Nelson Pereira dos Santos, que lançaram seus filmes mais recentes via edital público). Com a chamada retomada do cinema brasileiro em 1995, que tem em ‘Carlota Joaquina – princesa do Brazil’, filme de Carla Camurati o ponto inicial e, principalmente com a iniciativa de editais públicos para o cinema brasileiro - que democratiza, e como toda democracia, oprime as minorias - cria-se uma indústria que eu chamo de cinema de edital, produzindo filmes numa seleção de critérios duvidosos.
Existe hoje uma iniciativa pública que propõe a formação de uma massa de manobra, que jura salvar o audiovisual brasileiro, enchendo a própria bola, mas que se resume a imitar o cinemão clássico, produzindo um material sem qualidade inventiva, descriativo, preocupado apenas com as qualidades técnicas da imagem, realizando imagens belas, porém filmes sem conteúdo.  Eu não tenho nada contra um filme bem feito, desde que tenha conteúdo (filosófico, estético e artístico). O que existe (o real problema) é um cinema que tem – ou melhor: os críticos do tipo Rubens Ewald Filho dizem ter - ‘qualidade’ em produção, fotografia, figurino, mas sempre pecam no roteiro, no texto, no argumento, na linguagem cinematográfica... uma caixa vazia embalada para presente de luxo. Isso gera uma série de questões: seria culpa do cinema que se assiste? Com o advento da internet, do download P2P e a facilidade da circulação da informação, o que estariam assistindo nossos jovens cineastas? Seria este novo cinema brasileiro totalmente voltado ao mercado do ponto de vista neoliberalista?
O cinema de edital quer ser Hollywood, e o curta metragem, que deveria ser uma via de experimentação estética e amadurecimento lingüístico, atualmente, nada mais é que um trampolim para ser filme de edital. Seria um interesse industrial do Estado num cinema de massa, para um dia ganhar um Oscar?[1] Ou para acalentar as massas? Fazê-las rir e se emocionar, saindo do cinema satisfeito com aquela estorinha vazia como a vida moderna?
O amadurecimento lingüístico se pratica em qualquer formato: super-8, 16mm, VHS, betamax, u-matic, hi-8, câmera fotográfica, telefone celular... o que eu não entendo é essa mania de ser Hollywood. Seria culpa do cinema que se assiste? Ou é somente mais um sintoma do sentimento de inferioridade nacional que faz o brasileiro ter mania de grandeza sem ter nem comida na barriga pra cagar? Talvez seja o mercado de cinema atual. Talvez.
Contribuindo para este declínio total da produção nacional estão os festivais. Quanto a isso, faço minhas as palavras de Carlos Adriano Rosa: “Festivais de cinema anunciam-se como o espaço do novo e da diversidade, mas por ignorância e preconceito rechaçam tudo que é invenção radical avessa a formatos e concessões. O curta é proclamado como nicho de experimentação, mas predomina o modelo cartão de visita, triste piada que esconde o equivocado desejo infantil de um virar longa-metragem, que, adulto, vai pastar no mercado. (...) Se o digital facilita a produção e a difusão, a preguiça mental e o oportunismo paroquial ditam a norma na terra devastada e prometida do cinema. Banidos o escândalo e a audácia, os filmes conformam-se à média do banal e do medíocre”. Sem mais comentários.
            Num caminho inverso a essa produção amorfa, existe outro tipo de produção fílmica, onde a desimportância com a qualidade da imagem - na verdade, a despreocupação com os novos formatos como o atualíssimo high definition, e seus CCD´s[2] - tendo comprometimento com a linguagem cinematográfica, torna essa cinematografia marginalizada, por estar fora dos padrões vigentes - vigentes para o cinemão, pois imagem É imagem e ponto final. Isto só demonstra o quanto ‘estas’ pessoas estão preocupadas com a imagem e despreocupadas com a linguagem e o cinema em si. A quem interessa o filme bonito e vazio?
Linguagem e montagem - a forma como se trabalha com a imagem para compor o filme – são indissociáveis. Não só a montagem, como a forma final do filme / vídeo, o tratamento dado às imagens, a forma como se apresentam ao espectador. Sendo a linguagem, um “sistema de signos destinados à comunicação”, e tendo o cinema como sendo Arte desde suas origens, este passa então a ser uma linguagem capaz de relatar fatos e veicular idéias, gerando desta forma uma escrita própria que se encontra em cada realizador, sob forma de estilo, transformando-se deste modo num meio de comunicação ao estilo de cada um. Sendo assim, não entendo como essa crítica, esse júri e esse público insistem em desmerecer o diferente, assim tentando incluir tudo e todos dentro de um dogma. Deve ser a dicotomia clássica milenar ocidental: sim / não. Vai saber...
O cinema também existe para libertar o próprio cinema das amarras acadêmicas conceituais e dogmáticas - e esta parte cabe à linguagem: se o que se propõe é por si só, anti-dogmático, deve-se ser utilizado, pois, só assim a linguagem / comunicação se faz completa. A superexposição à luz, a negação do estímulo visual ou qualquer outro elemento / procedimento ‘estranho’ à linguagem do cinema clássico, por ventura pode vir a ser interpretado como erro, ou algo de mau gosto pelos dogmáticos do cinema, entretanto, vem a fazer parte da inventividade e experimentação do cineasta para a compreensão da obra por ele pensada, tendo na experimentação e na utilização dos recursos técnicos disponíveis, um meio para o alcance do objetivo comunicacional. Explorar os limites do material fílmico, o material captado. Explorar formatos; explorar imagem. Explorar o que se tem em mãos para comunicar, seja de que forma for. A eterna busca pelo aperfeiçoamento lingüístico.
Alguém precisa se opor à algo. É a lógica das coisas existentes. Se pelas bandas de cá todos cedem à introdução do modelo fordista e de massa deste cinema capenga, existem opositores aqui também. Um cinema que nega sua existência autônoma, partindo do pressuposto que esse tipo de cinema (co) existe em função do que se opõe - o cinema clássico tradicional - indo em direção contrária ao cinema narrativo em todos os aspectos possíveis.
Esse cinema, dito de vanguarda ou experimental – levando em conta que experimenta possibilidades técnicas - não possui de fato uma definição. Gênero negador do clássico e da mesmice é notório o radicalismo de linguagem, instaurando a ruptura, praticando a guerrilha, instaurando a crise e a resistência, se interessando mais pelo processo criativo que pelo produto fílmico – ou seja, o caminho inverso do cinema clássico - procurando mais provocar sensações, que meramente reproduzir o mundo e sua realidade enfadonha, mantendo seu compromisso com a própria obra, gerando filmes que não são “para vender, mas pelo prazer de criar (...) de desvendar outros territórios na aventura da percepção (como a poesia)” (ROSA, 2003), sem pretensão de atingir o grande público (sendo feitos até para satisfazer o próprio realizador), tendo museus, galerias, cineclubes, universidades, e hoje, a internet como circuito de exibição. 
O filme / vídeo é antes de tudo Arte. Ou pelo menos, deveria ser. Orson Welles afirma que “se o cinema não tivesse nunca sido amoldado pela poesia, teria permanecido como simples curiosidade mecânica e seria ocasionalmente exibido como uma baleia empalhada”. Hoje a curiosidade não é mecânica e sim tecnológica. A baleia empalhada de hoje é o After Effects: o absurdo em Chroma key. Os filmes americanos voltaram pro estúdio, e a Globo Filmes é a nova Vera Cruz. Não mais explorar os limites do material fílmico: o filme quadrado para pessoas quadradas; o filme ignóbil para as pessoas ignóbeis; o filme vazio para as pessoas vazias; o filme bonito para as pessoas ignóbeis, quadradas e vazias.
Sendo assim, tudo o que me resta é assumir a independência, pensando como Stan Brackage: “Independente sempre foi alguém que faz algo porque é compelido, que não está preso a mais nada ou ninguém.” Ou seja: quando se está fora dos padrões do cinema dogmático, - esse cinema fordista sem proposta conceitual - você pode fazer o que quiser. Independência ou morte. A morte seria cair nas graças do Estado ou do público, essa grande besta quadrada. Isto sim é a morte do cinema brasileiro. Minha vida se baseia na recusa da participação na mediocridade. A não aceitação do que está em voga é a minha mola mestra.
Definitivamente precisa-se admitir que o cinema brasileiro está pela hora da morte, entregue à um sistema industrial colonialista, almejando um dia ganhar algum Oscar, o prêmio máximo da mediocridade inventiva cinematográfica. “...outro dia sim, porém, hoje não”. E, assim que chegarmos lá (Eu não!) estará certo que o cinema brasileiro jaz morto. Deixo questões em aberto, propositadamente, como um filme que provoca questionamentos no espectador-leitor; que não acaba quando termina. Não responderei. Faço suposições porque a verdade não existe, e quando alguém afirma ter a verdade, não passa de mera especulação. Se essas questões não te interessam, deixa isso pra lá e vai ver um filme nacional.

Observação: Não se trata de mágoa, porque mágoa não há. Trata-se apenas de fazer o que tem que ser feito.

* Alessandro Santana (videomaker, especialista em artes visuais e compositor sergipano).


[1] Este texto foi escrito antes da notícia da escolha de Tropa de Elite 2 para concorrer como filme estrangeiro no festival de cinema hollywoodiano.
[2] Dispositivo de Carga Acoplada ou CCD (charge-coupled device) é um sensor para captação de imagens, onde a capacidade de resolução ou detalhe da imagem depende do número de células fotoelétricas do CCD.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

FAZ O QUE PODE: OS 10 MANDAMENTOS



1- A metodologia não ortodoxa funciona quando se pensa a forma do     
    filme.

2- A iluminação não interessa quando se está estudando linguagem.

3- O público não interessa. O importante é fazer o que tem que ser feito.

4- Qualquer equipamento que registre imagem em movimento é uma             
     máquina de filmar. Abaixo a ditadura da bitola e do CCD.

5- O técnico é, acima de tudo, um anti-esteta.

6- Qualquer pessoa pode ser um ator, desde que seja bem dirigido.

7- Vídeo é para TV.

8- O filme tem a duração que ele precisar ter.

9- Filmes a qualquer preço. Conteúdo acima de tudo.

10- Sozinho a gente não vale nada. E daí?!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sem Utopia - Trailer oficial


Um dia comum, um brasileiro quase comum. Aqui, o horror existe por si só. Um dia na vida de um homem que prefere encarar a realidade a viver a utopia das massas. Um cotidiano passado. Azedo.

Um vídeo de Alessandro Santana
Baseado em texto de Mendes Costa
com Alexandre Gandhi


FqP 021
 

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Breve em DVD: Vídeos 2008-2009


           São 11 vídeos de curta metragem do artista visual e especialista em Arte Visuais Alessandro Santana, numa compilação da sua produção em vídeo entre os anos de 2008 e 2009.

            Este DVD preza por firmar um registro da obra do artista em questão formando uma unidade no ciclo de um ano de pesquisa na linguagem da comunicação em vídeo, tendo em vista que os vídeos apresentados têm por base os filmes experimentais (no tocante à experimentação estética e artística, quanto também, relativo à comunicação visual abordada em sua estética), que enfoca vários temas, proporcionando ao espectador uma reflexão crítica (com relação às temáticas) e artística a partir do trabalho do referido artista.
Os ditos filmes experimentais, surgidos no começo do século XX, tornam-se uma linguagem artística que utiliza a imagem em movimento para expressar ideais plásticos, sendo largamente utilizada pelos movimentos artísticos de vanguarda do começo do século passado. Com as facilidades do videotape, uma segunda geração de vanguarda experimenta essa linguagem a partir dos anos 70, linguagem esta que é retomada no século XXI com maior produção e veiculação devido aos meios digitais de gravação e reprodução dos mesmos.
            Partindo do ponto que Sergipe não é agraciada com este tipo de produção, tendo como maior contingente produtivo os vídeos de ficção, vídeos publicitários e documentários, sendo escassa a produção de Arte visual com suporte em vídeo, propôs-se juntar em um único DVD a produção de um ano do artista, cujo resultado são os 11 vídeos aqui apresentados, pretendendo registrar um ciclo de um ano da produção.
            A arte gráfica da capa ficou por conta de George Frizzo.