sexta-feira, 12 de abril de 2013

O Ó da MemÓriA - uma breve reflexão



O Ó da MemÓriA – Alessandro Santana, 2012; 12 min, cor, NTSC, 16:9.

“O Ó da MemÓriA” é um experimento acerca da poética audiovisual agregada à poética textual a partir de um poema de Newman Sucupira intitulado parágrafos do fim – que no vídeo vem precedido de trechos do primeiro parágrafo do conto Matador, também do autor acima citado. Com um roteiro escrito em 4 horas e gravado em dois dias (e mais alguns fragmentos de imagens gravados esporadicamente – não ontologicamente – sem o intuito necessário de compor uma narrativa propriamente dita).

O vídeo trata da questão da memória. Neste caso específico, das memórias da personagem anônima e solitária que após recitar algumas estrofes do poema submerge na memória imagética com base numa premissa do filósofo grego Cícero (106-43 a.C.) onde “as imagens lembram as próprias coisas (...) percorrer a imagem é o meio mais seguro de conservar a lembrança de algo”. A partir daí surge a ideia de lançar o olhar para a imagem pura e simples. A imagem enquanto registro, memória e poética visual, que se dá através das possibilidades de associação das imagens capturadas, na sua consequente montagem; na forma como esses planos são justapostos (leia-se recursos de montagem possibilitados pela gramática cinematográfica, a partir dos artifícios próprios dessa linguagem). Sendo assim, temos como referências para este vídeo as teorias de Vertov da câmera olho, assim como princípios da videoarte.

Sobre a questão da memória, ponho-me a concordar com Marcel Martin quando afirma que “a imagem fílmica restitui exata e inteiramente o que é oferecido à câmera e o registro que ela faz da realidade, constitui por definição uma percepção objetiva: o valor probatório do documento fotográfico ou filmado é um princípio irrefutável”, onde esse princípio irrefutável é a imagem, e essa imagem registrada será o equivalente visual exato da lembrança, levando em conta também as atribuições ao filósofo Cícero, já citado anteriormente. Sendo assim: registro de imagem é memória – e é aí que o recorte poético da imagem e a memória do artista / criador se fundem com as memórias da personagem na diegese; personagem esta que não é uma protagonista por completo, pelo seu anonimato, e principalmente pelo que pode refletir em qualquer espectador (fato decorrente da poesia textual recitada pela performer).

O título “O Ó da MemÓriA” é uma associação entre a palavra memória e a imagem da mesma, onde no centro habita o Ó; que além de ser a sílaba tônica, está para o centro da palavra assim como a imagem está para o cerne da memória. Pelo fato do vídeo ser uma poesia visual baseado em texto, propôs-se esta integração textual-imagética para intrigar o espectador apontando-o subjetivamente o conceito do vídeo, incluso no título como também na sua grafia (alternando caixa alta e baixa, ressalta-se ainda mais a posição central da letra em questão).

Desta forma então, temos um vídeo-experimento que tem a memória como tema e abrange três práticas distintas: a performance; a poética visual e o experimento com imagens documentais, tendo tudo isso como imagem bruta para o exercício da montagem e a prática da linguagem audiovisual.

Alessandro Santana.