terça-feira, 3 de dezembro de 2013

EXTREME FLICKERING EXPERIENCE


Vídeo, Cor / PB, 1 min.

O corpo é o receptor de toda obra de arte. Para esta função depende dos órgãos dos sentidos que integram o complexo, interagindo com o espaço exterior. Nas artes plásticas, o olho é o intermediador entre a obra e o cérebro que irá decodificar a informação artística aplicada na obra. No cinema, as informações visuais combinadas às auditivas se complementam concretizando a obra.
Extreme Flickering Experience é um estudo prático da estruturação das mínimas unidades de imagem em movimento e as possíveis formas de combinação de imagens alheatórias (ou variações de uma mesma imagem em cores diferentes) além de uma posterior observação ótica dos seus resultados. Neste caso, estou trabalhando com vídeo digital em sistema NTSC que utiliza como padrão 29 frames por segundo. A proposta do vídeo é exatamente de observar as reações físicas advindas do excesso de informação visual e auditiva que levam ao extremo a capacidade de percepção humana. O título em inglês pode ser entendido em português como "experiência piscante extrema". A trilha sonora é a musica Test Patern #0010 do compositor japonês Ryoji Ikeda que trabalha o ruído branco como objeto sonoro das suas composições (o ruído branco é uma combinação simultânea de todas as frequências sonoras).
O cinema, ainda em seu período experimental chegou a definir um padrão de 24 quadros por segundo, baseados na persistência da retina humana, chegando à conclusão que as imagens projetadas com velocidade acima de 16 quadros por segundo são interpretadas pela retina como imagens sem interrupção. Entretanto, neste trabalho temos a velocidade das imagens alternando entre negativo e positivo, somada à combinação de cores (cor primária e sua complementar utilizadas consecutivamente) piscando em uma média de 20 a 29 imagens diferentes por segundo, que associadas à trilha sonora em stereo, atuando informações sonoras diferentes em ambos os canais, acabam por gerar o chamado ritmo taquicoscópico subliminar, segundo o Dr. em ciência da comunicação Flávio Calazans, conforme seu artigo "midiologia subliminar: propaganda subliminar multimídia - o estado da técnica ao raiar do ano 2000".
Este trabalho tem como base obras do cinema estrutural, vertente do cinema de vanguarda que Adams Sitney, criador desta nomenclatura, definiu como um cinema baseado na estrutura de sua forma onde qualquer conteúdo é mínimo, sendo esta forma simplificada e predeterminada. Sitney aponta ainda quatro características das quais duas delas aparecem neste trabalho: a câmera fixa e o efeito de flickagem, embora esses pressupostos sejam amplamente discutíveis entre os teóricos.
            Como obras de referência deste trabalho, temos o filme Arnulf Rainer do cineasta austríaco Peter Kubelka, (composto de fotogramas pretos e brancos e ruído branco e silêncio em alternância), e mais quatro obras do pintor e cineasta americano Paul Sharits que valoriza a diferença entre os fotogramas resultando no impacto desta diferença sobre a retina durante a projeção.
            Realizando esta pesquisa, pude notar ao montar e assistir ao vídeo Extreme Flickering Experience, depois de definir previamente sua estrutura, que qualquer variação na ordem estrutural das partes que compõem o todo é extremamente crucial para o modo como o olho humano (e consequentemente o cérebro) irá codificar essa informação, por menor que seja esta partícula de informação visual. Também pude notar como o efeito flickering e a combinação de cores pode nos causar, em longos períodos de exposição, além de cansaço visual uma sensação física de mal estar, comprovando assim a relações entre o objeto artístico e corpo, e como percebemos o invisível através dele.

Referência Bibliográfica:

ADRIANO, Carlos. Um guia para as vanguardas cinematográficas. Encontrado em http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/1611,1.shl acessado em 04 de agosto de 2009.
ARNHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Visual: uma psicologia da visão criadora, São Paulo: Pioneira, 2002.
CALAZANS, Flávio. Midiologia subliminar: propaganda subliminar multimídia:
o estado da técnica ao raiar do ano 2000,  http://www.eca.usp.br/alaic/Congreso1999/13gt/Flavio%20Calazans.rtf acessado em 04 de agosto de 2009.
GIDAL, Peter. Structural Film Anthology, London: British Film Institute, 1976.