Andrei Tarkovski |
Esta semana reassisti Solaris, do diretor russo Andrei Tarkovski. Baseado em romance homônimo de Stanislaw Lem, o filme narra a história de um psicólogo encarregado de realizar uma investigação sobre os mistérios que interferem em uma missão em torno do planeta Solaris. Um filme sobre memória e existencialismo. Tarkovski é, de fato, um formidável criador de imagens, mas não é sobre isto que vamos falar nesta postagem, e sim sobre a trilha sonora nos filmes de Andrei, os três cujas trilhas foram compostas por Edward Artemiev (os respectivos links para download das trilhas estão no fim da postagem).
Eduard Artemiev |
Eduard Nikolaevich Artemyev estudou no Conservatório de Moscou. Seu interesse por música eletrônica e sintetizadores começou após sua graduação em 1960, quando a música eletrônica ainda estava em seus primeiros dias. Ele escreveu sua primeira composição em 1967 em um dos primeiros sintetizadores, o sintetizador ANS desenvolvido pelo engenheiro soviético Evgeny Murzin, sendo assim um dos pioneiros da música eletrônica. Sua colaboração com o cineasta Andrei Tarkovsky na década de 1970 o tornou mais conhecido. Ele escreveu a trilhas sonoras dos filmes Solaris, O espelho e Stalker. Segundo o próprio Artemiev em entrevista no documentário 'dossiê Tarkovski', o diretor em questão não queria música, mas uma combinação de sons que sugerissem a atmosfera necessária ao filme. Em Solaris, percebemos isso perfeitamente. Existe um som de fundo que não é uma música tonal e melodiosa, mas sons, peças para orquestra e eletronics, ou música eletroacústica que dão a ambientação da imagem, e que certamente alguns espectadores podem ouvir sem notar a presença da música, além, é claro do tema 'bachiano', que representa a terra (presente em apenas duas sequências do filme: no início e no fim). Ainda sobre esta 'bachiana', Artemiev pega um Cantus Firmus e cria uma melodia sobre a base 'emprestada' de Bach (que era o compositor favorito de Tarkovski). Nesses três filmes em que o músico e o diretor trabalham juntos, a trilha sonora funciona sempre nesse esquema onde os sons são a base da música, que quando mixados, dão força à imagens.
Interessante notar também uma (ou duas) coisa (s) relacionada (s) à questão da imagem (e da música) em Tarkovski: no volume II do Dossiê Tarkovski (uma série de 4 dvd´s sobre o próprio com entrevistas, documentários e cenas excluidas de alguns filmes), Artemiev aponta que certa vez Tarkovski o disse que utiliza a música como complemento quando ele falha na comunicação através da imagem. A segunda observação seria a relação de Tarkovski com a arte, e principalmente com a pintura, e o seu pensamento de que, sendo o cinema uma arte relativamente jovem, ele propõe então trazer toda a bagagem das artes - a literatura, a pintura e a música principalmente - para o cinema tornando-o algo tão forte quanto as artes seculares previamente citadas.
Sem dúvida, por essa seriedade em tratar de questões estéticas, de pensar o filme e de relacionar o cinema com as artes clássicas, Tarkovski encanta com as imagens que cria e com as estórias que conta. Não pela estória em si, mas pela forma como ela é contada. Contrariando o primeiro parágrafo, acabei falando das imagens, afinal, é absolutamente indissociavel Tarkovski / Imagem.
SEQUÊNCIA FINAL DE SOLARIS
a baixo os links para download das trilhas sonoras
O ESPELHO + STALKER
Nenhum comentário:
Postar um comentário