terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tarkovski + Artemiev = Arte

Andrei Tarkovski
Esta semana reassisti Solaris, do diretor russo Andrei Tarkovski. Baseado em romance homônimo de Stanislaw Lem, o filme narra a história de um psicólogo encarregado de realizar uma investigação sobre os mistérios que interferem em uma missão em torno do planeta Solaris. Um filme sobre memória e existencialismo. Tarkovski é, de fato, um formidável criador de imagens, mas não é sobre isto que vamos falar nesta postagem, e sim sobre a trilha sonora nos filmes de Andrei, os três cujas trilhas foram compostas por Edward Artemiev (os respectivos links para download das trilhas estão no fim da postagem).
Eduard Artemiev

    Eduard Nikolaevich Artemyev estudou no Conservatório de Moscou. Seu interesse por música eletrônica e sintetizadores começou após sua graduação em 1960, quando a música eletrônica ainda estava em seus primeiros dias. Ele escreveu sua primeira composição em 1967 em um dos primeiros sintetizadores, o sintetizador ANS desenvolvido pelo engenheiro soviético Evgeny Murzin, sendo assim um dos pioneiros da música eletrônica. Sua colaboração com o cineasta Andrei Tarkovsky na década de 1970 o tornou mais conhecido. Ele escreveu a trilhas sonoras dos filmes Solaris, O espelho e Stalker. Segundo o próprio Artemiev em entrevista no documentário 'dossiê Tarkovski', o diretor em questão não queria música, mas uma combinação de sons que sugerissem a atmosfera necessária ao filme. Em Solaris, percebemos isso perfeitamente. Existe um som de fundo que não é uma música tonal e melodiosa, mas sons, peças para orquestra e eletronics, ou música eletroacústica que dão a ambientação da imagem, e que certamente alguns espectadores podem ouvir sem notar a presença da música, além, é claro do tema 'bachiano', que representa a terra (presente em apenas duas sequências do filme: no início e no fim). Ainda sobre esta 'bachiana', Artemiev pega um Cantus Firmus e cria uma melodia sobre a base 'emprestada' de Bach (que era o compositor favorito de Tarkovski). Nesses três filmes em que o músico e o diretor trabalham juntos, a trilha sonora funciona sempre nesse esquema onde os sons são a base da música, que quando mixados, dão força à imagens.

    Interessante notar também uma (ou duas) coisa (s) relacionada (s) à questão da imagem (e da música) em Tarkovski:  no volume II do Dossiê Tarkovski (uma série de 4 dvd´s sobre o próprio com entrevistas, documentários e cenas excluidas de alguns filmes), Artemiev aponta que certa vez Tarkovski o disse que utiliza a música como complemento quando ele falha na comunicação através da imagem. A segunda observação seria a relação de Tarkovski com a arte, e principalmente com a pintura, e o seu pensamento de que, sendo o cinema uma arte relativamente jovem, ele propõe então trazer toda a bagagem das artes - a literatura, a pintura e a música principalmente - para o cinema tornando-o algo tão forte quanto as artes seculares previamente citadas.
    Sem dúvida, por essa seriedade em tratar de questões estéticas, de pensar o filme e de relacionar o cinema com as artes clássicas, Tarkovski encanta com as imagens que cria e com as estórias que conta. Não pela estória em si, mas pela forma como ela é contada. Contrariando o primeiro parágrafo, acabei falando das imagens, afinal, é absolutamente indissociavel Tarkovski / Imagem. 
 
SEQUÊNCIA FINAL DE SOLARIS

a baixo os links para download das trilhas sonoras

SOLARIS
O ESPELHO + STALKER

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